segunda-feira, 4 de outubro de 2010

VOCÊ TEM ALGUMA HISTÓRIA?


Ando atrás de pessoas e tenho gasto sapatos, energia e horas caminhando para encontrar boas histórias. Tenho levado comigo ouvidos dispostos, algumas perguntas e um bom gravador. Eu sei que não é difícil encontrar pessoas, estão por aí, por toda a parte, em qualquer lugar. Mas o problema é que elas não param de correr e nem de andar pelas ruas. Estão trabalhando e têm medo de um “oi” desconhecido, que dirá de uma série de perguntas.

Esta é a saga que tenho vivido desde o começo do ano. Os quase quatro anos de faculdade de jornalismo foram mais fáceis do que os últimos meses. A idéia de escrever um livro, que depois foi substituída pela vantagem de fazer uma boa reportagem, tem agitado os meus dias. O que não foi má idéia, já que sempre quis por em prática a alma jornalística que mora em mim. No entanto, fazer matérias sobre histórias de vida tem me custado bastante. Andei demais, entrevistei muita gente.

Quebrei a cabeça atrás de uma bela biografia que poderia aguçar meu talento e vontade de escrever perfis. Sempre quiz falar de gente simples, mas queria mesmo eram os simples “heróis”. Queria histórias inusitadas, atraentes, mas de gente que não é conhecida. Daquelas pessoas que ninguém dá nada por elas. Procurei, procurei, falei pra todo mundo que estava procurando, mas pouca coisa apareceu. Cheguei a pensar que achar esses “heróis” nas ruas exigia mais alguns anos e quase desfaleci com a idéia de que meu projeto não daria certo.

Mas mesmo assim continuei e decidi falar dos trabalhadores. Daqueles que estão no nosso dia a dia. Entrevistei motoristas de ônibus, cobradores. Visitei alojamento de garis, conversei com eles. Visitei uma parteira, uma empregada doméstica que virou professora, depois um servente de limpeza. Fui atrás de seguranças que trabalham de madrugada e até ascensorista de elevador. Descobri um cara – o último em Recife – que ainda pinta fotografia. Falar com trabalhadores não foi difícil. Pelo menos nas oito horas da jornada, eles ficam sempre em lugares determinados. E minhas perguntas soavam muito mais como atenção para eles, do que indiscrição. Bastava só uma perguntinha de nada, para soltarem o verbo e falar das insatisfações, do desprezo, da família e dos sonhos para o futuro. Uma entrevista na hora do trabalho era, para eles, como uma conversa que ajuda o tempo passar, ou quem sabe, uns minutinhos para descansar as pernas.

Atrás de boas histórias, encontrei foi boas pessoas. Fui surpreendida pela simplicidade, pelo comum. Todos meus entrevistados são indivíduos comuns, que tem traumas, alguns sofrimentos, uma conta pra pagar, algum parente morto, um problema pra resolver, sorriso no rosto, sem muita beleza. E foi nesse “banal” todo que achei motivo e inspiração para falar dos nossos heróis de cada dia, que são heróicos não somente por suportar formas de exclusão (este é um do viés da reportagem), mas simplesmente por serem seres humanos com uma história. História diferente da minha, mas como a minha, que merece ser ouvida e contada.

Foto de Armando Artoni

0 comentários:

Postar um comentário