sábado, 7 de novembro de 2009

Homem, Trabalho e Exclusão

Por Carolina Sotero


Uma frase rude, um olhar que foi desviado, uma bolsa que foi afastada para não ser roubada, um governo que não dá chances, um trabalhador cujo trabalho foi esquecido. Essas são situações diárias. Com as quais, pessoas em diversos lugares e que trabalham em diversas áreas, têm que lidar. Episódios e casos comuns, aparentemente normais, mas que podem se tornar, para aqueles que os recebem, mutiladores.


Seja dentro de casa ou fora de casa, em um escritório, dentro de uma barraca ou em um esteio, nós trabalhamos. Trabalhar é um verbo que nunca deixou de existir na trajetória os homens. E mesmo com sua definição etimológica pendendo para o lado do sofrimento – o termo vem da palavra tripalium, em grego, objeto para castigar escravos – a atividade, que mistura disciplina e serviço, possui muitos significados. Na sua versão bíblica, por exemplo, permite transparecer dualidades, no mínimo, interessantes.

É que no Gênesis, mesmo antes do pecado, Adão já trabalhava. Além de criar nomenclaturas e identidades para os bichos, cuidava do jardim de Deus. Foi só algum tempo depois que a criatura de barro cometeu um erro que lhe resultou no castigo vivido por todo ser humano: cansaço após o trabalho. A humanidade agora, afastada da divindade, só sobreviveria através do trabalho com a terra, que lhe arrancaria suores e fatigaria seu corpo. A história que embala a fé de cristãos e judeus apresenta semelhanças com o que vivemos hoje. Sempre foi necessário trabalhar para a sobrevivência. Mas também é nesse espaço que podemos encontrar nosso maior paraíso – a satisfação.

Onde homem e trabalho são quase sinônimos, mexer com essa relação é mexer com a dignidade humana. Porque é no trabalho que o homem constrói e edifica sua identidade. “Muita gente nem sabe, mas o exercício de um ofício permite ao ser humano servir à coletividade e, ao mesmo tempo, encontrar sua realização pessoal”, contribui o Professor de Psicologia Social, Eduardo Fonseca.

Contudo, nessa estrada de mão dupla, um trabalhador pode ser surpreendido por situações indigestas. A exclusão é uma delas. Tocar no assunto “exclusão social” não é nada fácil. O termo é tão usado em países como o nosso, que chega, algumas vezes, a cair na banalidade e ser mal compreendido. “Isto porque nunca dá pra definirmos um limite preciso entre inclusão e exclusão. A conceituação é relativa de pessoa para pessoa, porque ninguém é totalmente excluído, nem totalmente incluído”, fala Fonseca, que também não desconsidera uma definição sobre o termo. “Mas, de uma forma geral, a pessoa é excluída socialmente quando é privada de acessos à bens materiais e simbólicos”, completa o professor. Um bem material, por exemplo, pode ser um salário indigno à jornada de trabalho e que não compensa o esforço físico empregado. Um bem simbólico pode ser uma “simples” falta de reconhecimento.

Apenas revirando as páginas da história já é possível perceber a exclusão no trabalho. Expressiva entre os povos, como no caso dos gregos e romanos, já que para eles, o trabalho era dividido entre aqueles que pensavam e os que executavam. Aos servos e escravos, era reservada, obviamente, a execução – o labor diário de um trabalho muito mais físico do que mental.

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