sábado, 22 de janeiro de 2011

O que nos ensina as últimas horas de Jesus


Este artigo é um resumo de tudo o que foi dito pelos irmãos (alunos e equipe do CPP) no Retiro de Espiritualidade, que aconteceu nos dias 13 e 14 de Junho de 2009 em Sorocaba. Durante esses dias foi estudado intensamente o Evangelho de João, do capítulo 13 ao 17.

Por este Evangelho ter sido escrito por João, discípulo tão próximo de Jesus, ele deixa escapar inúmeras particularidades e visões daquele que viveu os fatos que marcam nossa vida. Nossa leitura começa com o seguinte versículo: “Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora...” O que estas palavras nos dizem? Vemos neste registro como Jesus sabia e tinha clareza sobre sua missão, sua hora e o momento de cada coisa. Nada podia surpreendê-lo. Seus discursos atestam claramente sua ciência diante do desenrolar do tempo. E é exatamente assim que começa o relato de João sobre Suas últimas horas na Terra: revelando a supremacia de Cristo.

O mesmo Cristo que com nada se surpreende é o Cristo que surpreende. Ao ajoelhar-se para lavar os pés dos seus, assusta Pedro, surpreende seus discípulos. Nos surpreende até hoje. Pedro não quer deixar Jesus lavar seus pés, mas logo depois diz “não lave só os pés, mas também as mãos e a cabeça”. É escancarado o desequilíbrio de Pedro. Mas as palavras quem vem da boca de Jesus é superior e acabam com qualquer instabilidade, suposições e meias verdades: “Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo”. O que ele está querendo dizer? Ninguém lavou os seus próprios pés, mas pelo contrário ele ensinou aos seus que o certo é a lavar os pés uns dos outros. É um chamado para fora do individualismo, um chamado à comunhão, a comunidade, ao corpo.

E também não mandou lavar o corpo inteiro, mas somente os pés, que é uma parte do corpo que sofre tanto desgaste durante o dia. Estes são os membros que mais estão em contato com a terra, portanto, estão mais disponíveis a sujeira. Jesus dá o exemplo: lave o do seu irmão – ou até mesmo do seu traidor – deixei-o lavar os seus pés. Ele, o Mestre e Senhor, foi o primeiro nessa empreitada. E de fato, abre um caminho que antes não poderia ser trilhado. O caminho do perdão, da disposição em servir ao outro e esquecer da própria vida.

Outro fato importante, nessas últimas horas de Jesus, é que João descreve a presença de Judas em boa parte do texto. O fator “traição” parece ser a moldura desse capítulo, porque Jesus também fala que Pedro o negará. E logo depois de ensinar sobre humildade, de falar sobre o traidor, ele ordena: [Judas] o que pretendes fazer, faça-o depressa. O momento da ceia e do lava-pés parece ter expurgado o mal. A comunhão coloca para fora tudo aquilo que não presta para que Cristo seja glorificado. Pelo menos é isso que o autor deixa transparecer quando usa a palavra “quando” no seguinte versículo: “Quando ele [Judas] saiu, disse Jesus: Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus glorificado nele.”

Após a saída de Judas, percebemos que se inicia um novo momento de Jesus com seus discípulos. Agora ele fala tudo o que poderia falar com “os seus”. Fala sobre a Casa do Pai, assegura que lá há muitas moradas. Entendemos que este era um momento de angústia para o Senhor, seu lado humano se afligia. Contudo, ministra seus companheiros e declara o desejo que arde em seu coração. Assim como um militar deve se emociona ao ouvir o hino do seu país, confirmando sua missão, Jesus abre seu coração revelando seu desejo: “quero que vocês morem comigo”, “quero que habitem em mim”, “irei habitar em vocês”. Assim como Cristo, todo cristão deve ter como sonho morar com o Pai, estar onde ele estiver.

Percebemos ainda, que nas suas afirmações, Jesus expõe radicalmente a trindade e a presença do Pai e do Espírito Santo nos fatos históricos. Aos nossos olhos faz uma espécie de bagunça, mas na verdade traz uma revelação sem parâmetros humanos. Chega até mesmo a dizer que não nos deixará órfãos, se assumindo como Pai e primogênito ao mesmo tempo. Reitera sobre o novo mandamento de amar uns aos outros. Por ter mostrado, com sua vida, um exemplo de amor exclusivo ao Pai, agora fala sobre amar horizontalmente, abrindo o novo tempo da coletividade. Na medida em que não se importa em entregar seu corpo em sacrifício, mostra cuidado em manter seu corpo – a igreja – na base do amor, declarando incessantemente sobre: amar, guardar a palavra, permanecer nele e aguardar o Espírito Santo.

O cumprimento das Escrituras é há algo que os autores dos evangelhos constantemente ressaltam nos seus escritos. Neste capítulo vemos não só João, mas o próprio Jesus se mostra zeloso em cumprir aquilo que outrora havia sido profetizado. Se Ele cumpriu tudo o que estava escrito no Antigo Testamento, podemos estar hoje seguros que Ele cumprirá todas as coisas que prometeu e estão registradas no Novo Testamento. Isso nos testifica que, não somente nós, mas a trindade está com os olhos sobre as Escrituras.

Os discípulos pareciam não entender muita coisa do que Jesus dizia naquelas horas. Cada vez mais era evidente a necessidade do Espírito para trazer completa revelação. Conosco não é muito diferente. Nos vemos nas Escrituras. Somos tão desequilibrados quanto Pedro (“Não lave só os pés, mas também as mãos e a cabeça”), tão perdidos quanto Tomé (“Não sabemos para onde vais, como saber o caminho?”), tão cegos quanto Felipe (“Senhor mostra-nos o Pai e isso basta”). Mas Jesus nos conhece. Ele sabe que iremos dormir na hora que devemos orar, que iremos negá-lo mais de uma vez. Assim como é natural que o galo cante todo dia, ele sabe que é natural nossas terríveis falhas e isso não o surpreende. Contudo, afirma “não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim”. Nosso Senhor apresenta uma solução: a poderosa fé. Pede para descansarmos, acreditar no Pai, acreditar nele.

Por fim, nosso Cristo ora. Fala com o Pai na frente dos seus discípulos. Descansa no Pai e nos mostra exatamente o que fazer: descansar nele.

Muitas outras coisas foram ditas e percebidas, mas como diria o próprio João, “não há espaço suficiente”. Oramos para que, assim como o Espírito Santo não se contem as poucas letras escritas nos evangelhos, que ele possa falar aos nossos corações muito além dessas palavras e deste final de semana.

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